O relativismo moral / Grantorino





UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO UFOP

Programa Institucional de Bolsas de
 Iniciação à Docência
PIBID.PED-FILOSOFIA


1.   IDENTIFICAÇÃO:


Subprojeto: Filosofia
Coordenador de área: Sérgio Ricardo Miranda Neves
Acadêmico(a) Bolsista: Damiana Ferreira e Laiz Cristina
Local de desenvolvimento do Subprojeto:

E. E. Dom Pedro II

  Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP

Ano:

2012



















SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO

2 – JUSTIFICATIVA

3 – APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA FILOSÓFICO

4 – DISCUSSÃO DO PROBLEMA

5 – CRÍTICAS ÀS PROPOSTAS

6 – SUGESTÕES DE LEITURA

7 – GUIAS DE LEITURA

8 – SINOPSE

9 – EXPLICAÇÃO DO FILME

10 – PLANO DE AULA

11 – PERGUNTAS

12 – REFERÊNCIAS


1.      INTRODUÇÃO:
Levamos o debate sobre o relativismo moral para as turmas 3º A e 3º B da Escola Estadual Dom Pedro II com o intuito de refletir sobre as nossas crenças culturais. Apresentamos as posições conhecidas como “Relativismo Cultural” e o “Relativismo Moral”, segundo as quais o certo e errado variam de cultura para cultura. Ao longo do trabalho, também foi apresentado objeções ao Relativismo Cultural e ao Relativismo Moral. Ao final, foi apresentado a tese do Objetivismo Moral, que propõe a existência de valor objetivo nas questões morais.
2.      JUSTIFICATIVA
Neste trabalho, propomos investigar o Relativismo Cultural e o Relativismo Moral. Nosso objetivo foi dialogar com as turmas do terceiro ano da Escola Estadual Dom Pedro II acerca da diversidade cultural de modo a problematizar o relativismo moral sem desvalorizar as tradições, na tentativa de garantir o respeito para cada indivíduo independentemente de sua origem.
3.      APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA FILÓSOFICO:
É evidente que há no mundo diferentes tipos de culturas e que há variação a respeito do que é aceito como certo e repudiado como errado quando passamos de uma cultura para outra. Por exemplo, no Islã a poligamia é uma prática culturalmente aceita, porém no Brasil, além de ser imoral, é proibido a um homem se casar oficialmente com mais de uma mulher. A mutilação genital é uma prática aceita em algumas tribos africanas, porém é rejeitada na cultura ocidental. Algumas culturas permitem práticas homossexuais, enquanto que em alguns países, como, por exemplo, na Arábia saudita, elas são consideradas criminosas e quem as pratica pode ser punido com a pena de morte. Diante dessa variação, pode-se perguntar se o que é correto e o que é errado, o que é moral e o que é imoral, não seria, afinal, relativo a culturas. Essa questão é tema importante da metaética, parte da ética que estuda a natureza da moralidade. Uma resposta popular é o relativismo, que ressalta a pluralidade dos costumes e defende a tese de que os valores morais são relativos. Na sequência, discutiremos os argumentos a favor e contra a tese do relativismo.
4.      DISCUSSÃO DO PROBLEMA:
Parece que os costumes caracterizam as diferentes sociedades e o que é considerado correto em uma sociedade pode ser considerada incorreto em outra. Pode-se então perguntar: o certo e o errado não seriam relativos a culturas? Uma abordagem a essa questão é dada pelo relativismo cultural, que não só a diversidade dos costumes, mas registra também que há diferenças entre povos, e que o que é certo e o que é errado de fato varia de cultura para cultura. O relativista moral vai mais longe. Partindo da afirmação de que o que é certo e o que é errado varia a cada cultura, o relativista moral nega a possibilidade de um padrão objetivo de avaliação moral. É importante aqui ressaltar que aceitar o relativismo cultural não implica concordar com o relativismo moral, mas aceitar o relativismo moral implica em estar de acordo com o relativismo cultural.
O relativismo moral interpreta os valores morais em termos de aprovação social: visto que não é possível ser imparcial, as pessoas tendem a defender os padrões morais aprovados pela maioria, ou seja, pela cultura na qual foram educadas. Considere a crença de uma pessoa que foi educada em uma cultura que aceita a mutilação genital. Essa pessoa é influenciada a acreditar que essa prática é correta, já que está de acordo com os seus costumes. Além disso, aceitar o relativismo moral implica estar disposto a entender que quaisquer regras morais que aceitamos podem ser inaceitáveis em outro contexto. Se pensarmos, por exemplo, na poligamia, para um relativista moral, se alguma sociedade considerar a poligamia uma prática incorreta, isso significa que a sociedade desaprova essa prática, mas que, em outra cultura, essa mesma prática possa ser considerada correta. Segundo o relativismo moral, não faz sentido questionar qual das posições está absolutamente correta, já que os costumes de cada sociedade constitui um fundamento para o certo e o errado. Portanto, para um relativista moral não há um padrão objetivo para determinar o que é certo e o que é errado.

5.      CRÍTICAS ÀS PROPOSTAS:
O relativismo moral defende a tese de que não há um padrão moral objetivo, sendo o certo e o errado relativos a cada cultura. Mas qual seria o argumento a favor dessa tese relativista? Ele seria um argumento sólido?
Para argumentar a favor da tese relativista, os relativistas partem da diversidade cultural, construindo o seguinte argumento:
        P1. Culturas diferentes têm códigos morais diferentes.
        P2. Certo e errado variam de cultura para cultura.
        Portanto, não existem princípios morais objetivos.
Esse argumento é um argumento solido? Vale lembrar que um argumento sólido é um argumento válido com premissas verdadeiras, e que um argumento é válido somente se não for possível que a sua conclusão seja falsa dada a verdade das suas premissas. Podemos conceder que a premissa do argumento relativista seja verdadeira, visto que há de fato diversidade cultural e há variação naquilo que as pessoas consideram como sendo o certo e o errado. Contudo, ele não é um argumento válido: a verdade de P1 e P2 não garante a verdade da conclusão o argumento a favor do relativismo moral, visto que as afirmações sobre a diferença dos códigos morais e a variação do certo e errado de cultura para cultura dizem respeito somente ao que as pessoas pensam ou acreditam ser o certo ou o errado, enquanto a conclusão diz respeito ao que objetivamente é o caso.
Para ilustrar essa distinção, considere um exemplo: diferentes povos têm crenças diferentes sobre o fenômeno da chuva, uns acreditam que a água que cai do céu é enviada por deuses que controlam o funcionamento do ecossistema, outros acreditam que a chuva é um fenômeno meteorológico que consiste na precipitação de gotas de água em estado líquido sobre a superfície da terra. O ponto aqui é que do fato de pessoas de diferentes culturas manterem crenças contrárias acerca da origem da chuva não implica que todas essas pessoas estejam certas. Nesse caso, mesmo que pessoas de diferentes  culturas mantenham crenças diferentes, apenas um grupo dessas pessoas está objetivamente correto.
Podemos considerar agora um caso envolvendo avaliação moral a titulo de ilustração do ponto que queremos estabelecer: A mutilação genital é uma pratica aceita em algumas tribos africanas, porém ela é proibida na cultural ocidental. Deveremos então admitir que a mutilação genital não é objetivamente certa e nem objetivamente errada? Não somos forçados a fazer essa admissão. O fato de algumas tribos africanas acreditarem que a mutilação genital é correta não significa que seja em si correta, mas que apenas pensam ser o certo, da mesma forma acontece com a cultura ocidental que acredita ser errada a mutilação genital. Portanto, notemos que do fato de pessoas diferentes acreditarem em coisas diferentes, não se segue que todas essas pessoas estejam corretas, de modo que, independentemente da crença seguida, algumas pessoas podem estar objetivamente certas e outras objetivamente erradas.
Há ainda um outro ponto contra o relativismo moral.
O relativismo moral considera que não há verdade objetiva no campo da moral e que, portanto, certo e errado variam de cultura para cultura. Diante disso, a opinião da maioria das pessoas pareceria ser um parâmetro para o que seria certo e o que seria errado dentro de cada cultura. Isso funcionaria bem se as culturas fossem homogêneas, ou seja, se todas as pessoas tivessem a mesma opinião sobre tudo dentro de uma determinada cultura. O problema é que na prática os acontecimentos não se dão dessa forma, visto que, em geral, as culturas são compostas de subgrupos. Esses subgrupos dizem respeito às diversas atividades exercidas por uma pessoa - como sua religião, sua área de atuação profissional -, aos amigos, à família, em suma, aos interesses pessoais de cada um dentro de uma dada cultura.
Para ficar mais claro o ponto que queremos estabelecer, consideremos agora um exemplo. Na perspectiva relativista, se em um país a maioria das pessoas defende a mutilação genital, então se segue que todos daquele país devem achar o mesmo, visto que deve prevalecer a opinião da maioria. No entanto, não podemos desconsiderar que nessa mesma cultura pode haver um grupo, composto por uma minoria de pessoas, que repudiam a mutilação genital. O problema é que ao aceitar o relativismo moral deve-se rejeitar a opinião da minoria das pessoas. Nesse sentido, o relativismo moral negligencia a possibilidade de que cada cultura possa aprender com seus próprios erros e com os erros das demais culturas, além de impedir qualquer progresso no campo da moral, já que o correto deve coincidir com o que é socialmente aprovado.
Diferentemente do relativista moral, o objetivista moral sustenta que as culturas têm valores em comum, contrariando dessa maneira, tanto o relativismo cultural quanto o relativismo moral e apontando para concordância de certos valores em sociedades diferentes. Com efeito, se analisarmos mais de perto os hábitos das diferentes culturas, veremos que é possível apontar uma base racional que justifique juízos morais entre elas. Inveja, assassinato, traição, por exemplo, são considerados como ruins em diferentes culturas, ao passo que valores como lealdade, justiça, integridade e outros são vistos como bons em diversos lugares. O que indica que as inclinações humanas não se divergem tanto assim quanto acredita o relativista.
Uma perspectiva objetiva sobre o que seria a moralidade entende que existem preferências pessoais que não necessitam ser acompanhadas de razões, como, por exemplo, quando alguém prefere a cor rosa ao invés da cor vermelho, ou quando alguém prefere comer pêssegos ao invés de comer maçãs. No entanto, para o objetivista, ações morais devem ser avaliadas sobre critérios que independem da cultura e sejam acessíveis a todos que são racionais. O objetivista moral propõe que os códigos morais tenham valor de verdade, ou seja, a defesa dos valores morais deve ser construída por um pensamento consistente e justificado. Sendo assim, o objetivismo moral propõe que no relacionamento entre diversidade cultural e objetividade moral seja preservado o respeito às diversidades culturais. A afirmação de um caráter universal da moralidade não se destina à destruição das crenças políticas, religiosas ou ideológicas dos povos; pelo contrário, o interesse de se estabelecer um padrão objetivo na moral segue-se da necessidade de se estabelecer um parâmetro mínimo de relacionamento social, parâmetro esse que, a partir de bases racionais e de argumentos devidamente justificados, possa garantir direitos mínimos para cada indivíduo fora ou dentro de qualquer cultura.
6.      SUGESTÕES DE LEITURA:
a-      Professor:
·         Rachels, James, O Desafio do Relativismo Cultural, Plátano Editora S.A, Lisboa. 2006. In ALMEIDA, Aires. MURCHO, Desidério, Textos e Problemas de Filosofia. p. 51 - 57
·         Sen, Amartya. Direitos Humanos e Diferenças Culturais, in Democracia , org. por R. Darnton e O. Duhamel (Rio de Janeiro: Record, 2001, pp. 421-429). Adaptação de Desidério Murcho.

b-     Alunos:
·         Gensler, Harry Tradução de Paulo Ruas. Extraído de Ethics: A contemporary introduction, de Harry Gensler (Routledge,1998).
Disponível em: http://criticanarede.com/fil_relatcultural.html . Acessado em maio de 2012.

7.      GUIAS DE LEITURA:
a-      James Rachels – Elementos da Filosofia Moral:
No segundo capítulo do livro de James Rachels “Elementos da filosofia Moral” há uma interessante discussão do relativismo. Esse capitulo é dividido em sete tópicos: 1- como diferentes culturas possuem têm diferentes códigos morais: Primeiramente, Rachels, através de alguns exemplos, demonstra de uma maneira clara que os valores morais variam de cultura para cultura. 2- Relativismo cultural: Com a constatação da variação dos valores morais, o autor se coloca na postura de um relativista, afirmando que a noção de certo e errado é relativo a cada cultura. 3- O argumento das diferenças culturais: ele expõe o argumento a favor do relativismo para então mostrar que, apesar de ser convincente para muitas pessoas, o argumento não é sólido. 4-As consequências de se levar a sério relativismo cultural: entre as consequências o autor afirma que “Não diríamos mais que os costumes de outras sociedades são inferiores ao nosso”. 5-Por que há menos desacordo do que parece: apesar da variação dos códigos morais, muitas vezes ao examinar o que parece ser uma grande diferença descobrimos que as culturas não se diferem tanto assim. 6- De que modo todas as culturas têm valores em comum: Se analisarmos mais de perto os hábitos das diferentes culturas, veremos que é possível estabelecer princípios morais semelhantes. Há preceitos como não matar e não mentir que são aceitos pela maioria das culturas. 7- O que se pode apreender do relativismo cultural: Ao final do capítulo, Rachels  argumenta que, apesar da teoria relativista ter sérios problemas, ela contém elementos importantes, como chamar atenção para o fato de que muitas práticas que pensamos ser naturais serem meramente produto cultural.

b-     Harry Gensler – Ética e Relativismo Cutural:
No texto “Ética e relativismo cultural”, temos, em primeiro momento, a definição de relativismo cultural, que segundo o autor Gensler significa aquilo que é socialmente aprovado. Para argumentar a favor do relativismo cultural, o autor utiliza uma figura ficcional, que foi nomeada “Ana relativista”, que expõe os argumentos a favor do relativismo cultural. O relativismo afirma:
        P1. Culturas diferentes têm códigos morais diferentes.
        P2. Certo e errado variam de cultura para cultura.
        Portanto, não existem princípios morais objetivos.
Em seguida, partindo das afirmações a favor do relativismo cultural, o autor aponta algumas objeções à argumentação relativista. Ao final do texto, em resposta ao relativismo, o autor expõe o objetivismo, que afirma que as culturas têm valores em comum, contrariando relativismo e apontando para concordância de certos valores em sociedades diferentes.
c-      Amartya sem – Direitos humanos e Diferenças Culturais:
Esse texto foi incluído nas sugestões de leituras porque trata  dos Direitos Humanos, que é um assunto recente e importante para o relacionamento entre as diferentes culturas. O ponto importante é que o texto de Amartya Sem, ao discutir acerca da moralidade no âmbito dos direitos humanos, possibilita uma melhor compreensão do problema da moral, além de fornecer base intelectual para a análise crítica das ideias apresentadas no trabalho.
Sendo assim, no texto Direitos humanos e diversidade cultural, encontraremos, primeiramente, as seguintes definições dos conceitos de direitos humanos universais e direitos constitucionalistas:
·         Direitos Humanos Universais são caracterizados por serem direitos mínimos, que dizem respeito à sobrevivência e comunicação das pessoas, e que são concedidos a todos, independentemente da origem, cultura ou quaisquer formas de identificação que a pessoa possa possuir.

·         Direitos Constitucionalistas são direitos e/ou deveres garantido a um determinado povo, que pertencentes a uma determinada localidade, obedecem e são protegidos por certar leis locais.

A partir das definições apresentadas acima, o autor divide o texto em cinco tópicos:

A)    Discordâncias aparentes e contrastes culturais:
Amartya Sen reafirma o caráter unificador dos direitos humanos universais, dizendo que tais direitos valorizam o indivíduo. Além de estabelecer critérios mínimos para o relacionamento cultural. Porém, o autor também destaca que, por serem aceitos apenas no ocidente, os direitos humanos surgem como um fator de diferenciação. O ponto problemático é que os relativistas se apropriam dessa ideia para afirmar a diversidade cultural e o relativismo moral. Amartya Sen também mostra que os relativistas usam tal fator de diferenciação para atacar os direitos humanos, dizendo que a obrigação de aceitar dos direitos humanos considerados universais seria o mesmo que impor a cultura ocidental sobre as demais culturas. Diante disso, o autor finaliza a primeira parte do texto questionando sobre a existência efetiva de diferenças entre as tradições dos povos e crenças políticas.
B)    Diversidade nas tradições ocidentais e valores asiáticos:
Amartya Sen afirma que do ponto de vista histórico não há de fato uma dicotomia entre as civilizações ocidentais e não ocidentais. O autor fala que a base natural da liberdade individual e da democracia política que caracterizam a civilização ocidental e que vai gerar o conceito dos direitos humanos universais é na verdade uma ideia muito nova. É claro que outras ideias que valorizam a tolerância ou a liberdade individual foram apoiadas e defendidas por muito tempo, porém o conceito de direitos humanos é uma ideia recente, derivada da condição de intenso relacionamento intercultural possibilitado, entre outros fatores, pela globalização. Amartya Sen diz que, se, no entanto, quisermos buscar as origens das ideias de liberdade individual e tolerância presentes no pensamento contemporâneo ocidental, iremos encontra-las também no pensamento não ocidental.  O autor aponta que as tradições intelectuais são muito variadas tanto nas culturas ocidentais quanto nas culturas não ocidentais. O budismo é apresentado como exemplo, já que tal tradição nasce e se desenvolve na Índia e rapidamente se estende ao sudeste asiático e ao leste da Ásia, chegando aos dias atuais, tendo adeptos em todo o mundo. Vale lembrar que o Budismo considera que cada ser humano têm o direito a tolerância individual.  Além disso, outros autores da antiguidade e contemporâneos em diferentes regiões da Ásia, também se empenharam, segundo os mais variados registros, em favor da tolerância. O que segundo Amartya Sen comprova que as ideia de liberdade e tolerância não são ideias exclusivamente ocidentais. Dessa forma, ele conclui definindo que as culturas asiáticas desenvolvem, tanto quanto as tradições ocidentais, uma grande diversidade de posições. Dessa maneira o autor propõe o seguinte encadeamento de ideias:
ü  A ideia de direitos humanos enquanto direitos universais de todo ser humano a partir de bases sólidas e racionais é uma ideia recente.
ü  As tradições e pensamentos antigos, encontrados nos escritos de certos pensadores asiáticos e ocidentais apontam elementos, como a valorização da tolerância e da liberdade, que são muito próximos um do outro e absolutamente coerentes com a noção moderna de direitos humanos.
ü  O autor conclui que não há dicotomia cultural global, sejam “reivindicadas pelos que acreditam nas particularidades do ocidente, ou pelos partidários do autoritarismo asiático”.

C)    Variação no interior das civilizações islâmicas:
Vemos muitas vezes os islâmicos serem caracterizados como fundamentalmente intolerantes e hostis à liberdade individual. No entanto, a diversidade inerente a cada tradição também se encontra no islamismo. Para comprovar tal afirmação, Amartya Sen apresenta alguns exemplos, dentre os quais destacamos os Mongóis da Índia (especialmente o imperador Akbar) que chegaram a construir teorias sobre a necessidade da tolerância à diversidade.  Dessa maneira, o autor mostra que mesmo levando em consideração que existam outros teóricos não ocidentais que foram hostis aos direitos individuais. Que mesmo assim, devemos levar em conta o alcance da diversidade no interior das tradições islâmicas. Ou seja, Amartya Sen define que não é possível afirmar que a civilização islâmica se oponha integralmente à tolerância ou à liberdade individual.
D)    Conflito entre nações e críticas internas:
Amartya Sem se concentra na diversidade existente no interior de cada cultura não para afirmar que os países e culturas estão igualmente divididos, mas para argumentar a favor dos direitos humanos e para afirmar que tal ideia não é fruto de uma dicotomia antiga, mas, antes disso, é uma característica do mundo contemporâneo. O autor aponta que as ideias que possibilitaram os direitos humanos universais surgiram, sob uma forma ou outra, em diferentes culturas. Afirmando assim a necessidade de se reconhecer a diversidade cultural não apenas entre nações e culturas, mas igualmente no interior de cada nação e de cada cultura.
E)    Para Concluir:
O conceito de direitos humanos universais atrai tanto o senso comum, quanto a humanidade no que ela tem de comum. O conceito de direitos humanos é uma ideia muito nova possibilitada, entre outros fatores, pela globalização. No entanto, tal ideia unificadora tem sido objeto de críticas severas por parte dos relativistas e dos governos autoritários. Amartya Sem mostra que na realidade ideias de liberdade individual e tolerância presentes no pensamento contemporâneo ocidental e no conceito de direitos humanos tem seus fundamentos também no pensamento não ocidental. Além disso, afirma que as divergências mudam dentro de cada cultura e de cultura para cultura. E que sendo assim a diversidade no interior de cada cultura pode contribuir para tornar o mundo menos discordante.
                                                                                                                      
8.      SINOPSE:
O filme “Gran Torino” relata a experiência complexa de convivência entre diversos povos com diferentes culturas em um mesmo bairro, ressaltando o problema da diversidade cultural. O filme afirma as dificuldades de convivência quando as pessoas não valorizam os mesmos princípios morais, mas  aponta para a possibilidade de uma boa convivência entre pessoas diferentes quando alguns valores morais são aceitos pelas pessoas independentemente de sua cultura. Veremos isso ao analisar a relação entre os personagens Walt e a família de Thao, que mesmo sendo de culturas diferentes possuem sentimentos e valores morais comuns. Em suma, “Gran Torino”, ao apontar a existência de pessoas com valores em comum em meio à diversidade cultural, chama a atenção para a possibilidade do dialogo e acordo sobre os princípios morais que viabiliza o convívio das pessoas.

9.      EXPLICAÇÃO DO FILME:

Walt Kowalski (Clint Eastwood), um sobrevivente da Guerra da Coreia (1950-53), é um homem aposentado que valoriza os costumes de sua cultura (americana) e que se sente invadido ao ter de dividir o mesmo espaço com pessoas de culturas diferentes que passam a morar no mesmo bairro que ele. No filme, vemos o difícil relacionamento entre brancos, negros e orientais; porém, para abordar a temática da moralidade, vamos nos concentrar no relacionamento - que inicialmente é de desprezo e posteriormente é de amizade - que Walt estabelece com seus vizinhos imigrantes Hmong, vindos do Laos. Para tanto, selecionamos três cenas que serão expostas a seguir:
ü  No dia de seu aniversário Walt está sozinho bebendo cerveja na varanda, quando sua visinha Sue (Ahney Her) o convida para ir até uma festa na sua casa. Na casa dos Hmong, o personagem Walt observa que a família é muito tradicional, e, por isso, traz consigo vários costumes que são diferentes daqueles adotados por outras culturas, como, por exemplo, a cultura americana na qual Walt está inserido.  Na hora da refeição, Walt e Sue conversam, e ela expõe alguns hábitos do seu povo, o que destaca a existência de diferenças culturais. A personagem explica a seu vizinho americano que seu povo acredita que alma das pessoas reside na cabeça, e que por isso nunca se deve tocar na cabeça de um Hmong. Além disso, tal cultura assinala que olhar outra pessoa diretamente nos olhos é algo muito rude, que deve ser evitado. Para finalizar sua descrição, Sue diz que, culturalmente, o sorriso e visto pelo seu povo como expressão de constrangimento. Nessa cena, Walt concorda que ele e os Hmong são culturalmente diferentes, assinalando a diversidade cultural.

Ø  Início da Cena: 44:33,357
Ø  Fim da cena: 00:45:21,444
ü  Após constatarmos a diversidade cultural, vamos analisar duas cenas que demonstram que pessoas diferentes podem perfeitamente manter valores morais comuns. Thao (Been Vang) é irmão de Sue e vizinho de Walt. Ele é obrigado por uma gangue a roubar o carro de Walt, o seu Gran Torino 1972. O Roubo é impedido pelo proprietário. Na cena que tem início aos 55 minutos de filme, a família de Thao procura Walt para dizer que foram desonrados com o ato do rapaz, pois eles acreditam que roubar é uma ação moral errada. Sendo assim, a família de Thao exige que o rapaz trabalhe sem receber por isso, por um tempo determinado para Walt.

Ø  Inicio da cena: 00:55:03,043
Ø  Fim da cena: 00:55:23,582

ü  Na cena que se inicia com uma hora e quatro minutos de filme e termina dois minutos depois é Walt quem demonstra que roubar é uma ação moralmente errada. Walt está ajudando Thao a consertar algumas coisas em sua casa, quando vão juntos até a garagem de Walt para buscar algumas ferramentas que faltam. No local, Thao fica admirado com a imensa quantidade de ferramentas que Walt possui. Walt fica ofendido com a admiração do vizinho, que anteriormente havia tentado roubar o seu carro, e ressalta que todos aqueles objetos foram comprados ao longo de 50 anos de vida, com muito esforço e trabalho honesto. Essa cena demonstra claramente que, mesmo mantendo hábitos culturais bem diferentes, tanto Walt quanto seus vizinhos possuem valores morais em comum. O que reforça a ideia de que mesmo aceitando as diferenças culturais podemos apontar pontos comuns na moralidade.

Ø  Inicio da cena: 01:04:51,850
Ø  Fim da Cena: 01:06:15,052

10.  PLANO DE AULA:
1)      Temática geral: Relativismo Cultural e Relativismo Moral
2)      Tema: Sobre os códigos morais; se a moral seria relativa à cultura ou não.
3)      Público alvo: Alunos do 3º ano do Ensino Médio da “Escola Estadual Don Pedro II”.
4)      Recursos didáticos: Data show, textos selecionados, quadro negro e giz
5)      Objetivo geral:
·         Trabalhar com os alunos os conceitos de Relativismo Cultural, Relativismo Moral e Objetivismo Moral para produzir o questionamento: Será certo e errado, moral e imoral relativo aos hábitos culturais?
6)      Objetivos específicos:
·         Trabalhar com os conceitos e as diferenças entre relativismo Cultural e Relativismo Moral.
·         Promover o debate e o diálogo sobre o tema em sala de aula.
·         Possibilitar aos alunos a produção de uma resposta sobre o seu posicionamento acerca do questionamento sobre a moralidade.
·         Estimular o respeito e a valorização dos costumes culturais de outros povos.

11.  PERGUNTAS PARA AVALIAÇÃO:
  I.            O que é o Relativismo Cultural?
II.            O que é o Relativismo Moral?
III.            O que é a objetividade da Moral?

12.  REFERÊNCIAS:
      BENEDICT, Ruth, O Relativismo Cultural, Plátano Editora S.A, Lisboa. 2006. In ALMEIDA, Aires. MURCHO, Desidério, Textos e Problemas de Filosofia. p. 48-50
      Gensler, Harry Tradução de Paulo Ruas. Extraído de Ethics: A contemporary introduction, de Harry Gensler (Routledge,1998).
Disponível em: http://criticanarede.com/fil_relatcultural.html . Acessado em maio de 2012.
      RACHELS, James. “O Desafio do Relativismo Cultural”, Plátano Editora S.A, Lisboa. 2006. In ALMEIDA, Aires. MURCHO, Desidério, Textos e Problemas de Filosofia. Pag 51 – 57
Sen, Amartya. Direitos Humanos e Diferenças Culturais, in Democracia , org. por R. Darnton e O. Duhamel (Rio de Janeiro: Record, 2001, pp. 421-429). Adaptação de Desidério Murcho.