A deontologia de Kant > Watchmen





UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO UFOP
Programa Institucional de Bolsas de
 Iniciação à Docência
PIBID.PED-FILOSOFIA

1.   IDENTIFICAÇÃO:


Subprojeto: Filosofia
Coordenador de área: Sérgio Ricardo Miranda Neves
Acadêmico(a) Bolsista: Carlos Eduardo Barbosa
Local de desenvolvimento do Subprojeto:

E. E. Dom Pedro II

  Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP

Ano:
2012




Watchmen e a Deontologia Kantiana

1.Apresentação do problema filosófico:

            O termo ética é recorrentemente utilizado nos discursos moralistas cuja principal função é  de proibir certos atos e posturas. Porém, na filosofia, o termo ética se refere a um enorme campo de estudo sobre questões acerca da conduta humana. Podemos distinguir essas questões em três grandes grupos. As questões de metaética tratam a possibilidade de existir ações morais. As questões normativas tratam das regras para agir moralmente e, finalmente, as questões de ética aplicada lidam com problemas práticos na sociedade. Alguns exemplos:

Sabemos de fato o que é certo e o que é errado? (questão metaética).
Se queremos agir da maneira correta, quais seriam as atitudes que deveríamos tomar para que isso acontecesse? (questão normativa).
Existem leis que devemos seguir para agir corretamente ou devemos utilizar as consequências das nossas ações como parâmetro? (questão normativa).
O aborto é correto?(ética aplicada).
É moralmente permissível matar animais? (ética aplicada).  
Podemos justificar moralmente a eutanásia? (ética aplicada).

            Dentro do campo da ética normativa, existe um grupo de filósofos que utilizam as consequências das ações para avaliar a sua moralidade, chamados de consequêncialistas. Por outro lado, existem os defensores da existência de regras a priori que norteariam as ações humanas, quer dizer, que defendem a existência de regras universais que seriam invioláveis. Reagrupamos tais teorias em um grupo chamado de deontologia, que também é conhecida como teoria ética do dever. Apresentamos, a seguir, um exemplo desse tipo de proposta.

2. A universalidade como medida para o bem.

            Dentro da deontologia, Immanuel Kant (1724-1804) sobressai construindo uma regra universal para ações corretas. Um ponto em comum entre as várias deontologias é a construção de máximas, ou seja,  o princípio elementar que direciona a ação de um agente: deve-se fazer certo tipo de coisa em determinada situação para cumprir uma regra. Alguns exemplos de máximas que devemos seguir: Não matar, não mentir, não roubar, não comer carne, ajudar sempre necessitados, punir o mal etc. Porém, como sabemos que uma máxima pode estar correta? Diante desse problema, Kant formula o “imperativo categórico”, isto é uma regra anterior que orienta todas as máximas possíveis. Nas palavras de Kant:

Aja somente conforme aquela máxima pela qual simultaneamente você pode desejar que tal ato torne-se uma lei universal.

Isto é, temos que agir, de acordo com Kant, da maneira que queiramos que todos ajam em determinada situação. O principal critério para o autor determinar a validade de uma máxima é a universalidade. Uma vez que possamos universalizar uma máxima, quer dizer, transformá-la em uma lei que todos os agentes existentes devem seguir. Uma máxima universalizável seria, por exemplo, a máxima de não roubar. Diante de um imperativo assim, qualquer agente racional pode ver, sem qualquer dificuldade, que não devemos nos apropriar do bem alheio, visto que o bem coletivo da adoção desta regra é notório o todo tempo.  Ao contrário da máxima que prescreve que não devemos roubar, a máxima “prometer sabendo que não se cumprirá a promessa” não é universalizável. De fato, se generalizarmos essa máxima, o próprio ato de fazer promessas, quer dizer, o ato de assumir compromissos frente a um terceiro, deixaria de impor obrigações aos falantes, perdendo assim a sua função. Mesmo que possam existir casos excepcionais em que aparentemente fazer uma promessa sabendo que não se poderá cumpri-la, Kant continua a condenar tal ato, porque o ato de prometer em falso é em si errado, quer dizer, que ele não é universalizável.

3. Críticas à proposta de Kant.

            O grande problema, levantado já na época de Kant, aparece quando duas máximas universalizáveis entram em conflito. Uma formulação desse problema aparece no famoso exemplo do assassino curioso. Vamos imaginar que escondemos possíveis vitimas de um assassinato na nossa casa e o sujeito que pretende assassiná-las nos bate à porta perguntando sobre paradeiro delas. O que devemos fazer nesse caso? Se mentirmos para o assassino, estaremos ferindo a máxima universalizável de nunca mentir. Mas se dissermos a verdade, estamos ofendendo a regra de ajudar as pessoas em perigo. Normalmente, tenderíamos a mentir para salvar as vítimas, mas isto seria levar em consideração a consequência da ação. Kant, como grande crítico do consequencialismo, não se pode permitir a tal consideração, visto que o autor defende um valor intrínseco da regra que orienta a ação, nesse caso, a regra de que não podemos atropelar uma máxima por outra tendo em vista a avaliação do efeito gerado. Todas as máximas são igualmente válidas, sem uma ordem de prioridade.

4. Sugestões de leitura:

Professor:  “Os elementos da filosofia da moral”, de James Rachels; “ Compêndio de filosofia”, de Bunnin e Tsiu-James.
Alunos: “Os elementos da filosofia da moral”, de James Rachels; “O básico da filosofia”; de Nigel Warburton;  “Introdução a filosofia”, de Thomas Nagel.

5. Sinopse do filme:

            Watchmen - O filme é baseado em uma história em quadrinhos de sucesso (quadrinhos homônimo de Alan Moore e David Gibbons), publicada em meados dos anos oitenta e considerada até hoje uma das maiores – se não a maior – obra do gênero. A história se passa em uma espécie de realidade alternativa, na qual os EUA venceram a Guerra do Vietnã e Richard Nixon continua presidente. Nesse cenário, os super-heróis fizeram parte do dia a dia da sociedade americana através dos Vigilantes, um grupo de homens e mulheres fantasiados que combatia o crime. É quando, diante da iminente guerra nuclear entre EUA e União Soviética, que os antigos Vigilantes começam a ser eliminados, o que os leva a novamente se unirem para descobrir a verdade. O final abraça um toque de esperança, ainda que esta venha de uma bem-vinda reflexão que leva à derradeira questão: os fins justificam os meios? O grande acerto de Watchmen é a sua brilhante desconstrução da mitologia dos super-heróis, apresentando-os não necessariamente como protetores da paz e do bem-estar da humanidade, mas como seres  até certo ponto egoístas, com seus próprios motivos e razões para desempenharem tal papel.



6. Explicação do filme:

            Podemos observar nas ações dos “heróis” do filme a exemplificação das três principais teorias normativas da ética. O Coruja representaria a ética das virtudes; Ozymandias incorporaria o consequencialismo; Roscharch apresentaria traços de um comportamento deontológico. Focaremos na aula a nossa atenção no Roscharch; principalmente quando ele profere as suas máximas como “o mal deve ser punido”. Procuraremos relacionar o comportamento de Roscharch ao que vimos da ética kantiana por meio de questões como: Roscharch pode ser considerado um seguidor de Kant? as suas máximas seriam universalizáveis? o que no seu comportamento nos permitiria dizer isso? poderíamos aproximar a última cena de Roscharch no filme ao caso do assassino curioso (Roscharch prefere morrer do que mentir como os outros heróis para cumprir o plano consequencialista de Ozymandias, que trará paz mundial em troca da vida de milhares de inocentes)?

7. Planos de aula:

Escola Estadual Dom Pedro II
1ª aula:
Objetivo:

·         Conhecer da parte dos alunos o que eles entendem pelo termo “ética.”
·         Introduzir o conceito de ética e seus desdobramentos dentro da filosofia.

Conceitos chave: ética, ética normativa, deontologia e utilitarismo.
Metodologia: Estímulo à reflexão através de perguntas associadas ao cotidiano dos alunos. Por exemplo: Onde vocês ouviram falar de ética? O que é ética? Na segunda parte da aula, explanação sobre o termo “ética” dentro da filosofia (diferenciação entre a concepção filosófica e o senso comum) e apresentação dos subtemas da ética através do recurso multimídia de slides.
Tempo estimado: 50 minutos.

2ª aula:
Objetivo:

·         Ensinar as noções principais da deontologia Kantiana.
·         O problema da deontologia Kantiana, vulgo caso do assassino curioso.
·          
Conceitos chave: Imperativo, imperativo categórico, imperativo hipotético, máxima.
Metodologia: Discursar sobre os conceitos chave da aula através de recursos multimídia e da leitura de extratos do texto de James Rachels, do capítulo 9 do livro “Os elementos da filosofia da moral.”
Tempo estimado: 50 minutos.

3ª aula:
Objetivo:

·         Apontar para o aluno no filme elementos da deontologia kantiana e análise desses elementos.
·          
Metodologia: Exibição do filme “Watchmen”, pausando o filme nos momentos convenientes para reflexão e análise do assunto.
Tempo estimado: 150 minutos.

4ª aula
Objetivo:

·         Avaliar o conteúdo dado aos alunos
·          
Metodologia: Avaliar o conteúdo dado através de questionário impresso resolvido pelos alunos por meio de trabalho em grupo.

8.Perguntas para sala de aula e para avaliação.

1- O que em sua opinião seria a ética?
2-O que é a deontologia ou a teoria ética do dever?
3-O que seria uma máxima? Dê um exemplo de máxima.
4-O que é, de acordo com Kant, um imperativo categórico?
5-Explique como funciona o caso do assassino curioso.